domingo, 30 de dezembro de 2012

Coração de cetim

Não há noite que se passe sem eu o ter em sonhos meu amado.

Fiquemos em silêncio então pela morte do romantismo. Poderia a arte plagiar menos a vida? E a vida fazer da arte romântica sua realidade mais constante? Oh! Claro que não poderia. Paixões e amores assim como o nosso seriam então menosprezados pelos demais.

Paixões tão ardentes como chamas recém acesas e amores tão sinceros que nos fazem eternos, eternos assim como se realmente não fossemos envelhecer ou perecer diante a morte. Pois você é o principal causador de todos os meus sentimentos, e isso é inevitável. Todas as vezes que choro, são por você, e todas as vezes que não me aguento de tanta alegria são por você, sempre você meu amor. Tornou-se imortal em minhas lembranças.

Diga-me que tens este dia, e somente este antes de sua morte, e o tornarei o melhor de sua vida, assim como sempre faz com a minha.

A felicidade me transborda. É tanta e tão intensa que acabo por deixar escapar de meu coração e escorrer pelos olhos. As palavras de amor que aqui escrevo são todas aquelas que cabem em um simples "Eu te amo", ou um beijo ao se despedir, tais palavras que o nó em minha garganta não me deixa proferir.



sábado, 22 de dezembro de 2012

Bordas centrais


Via na moldura dos quadros expressionistas mais perturbadores, a borda de um espelho qualquer. Sua vida era estranha, bagunçada, as vezes bonita, muitas tantas profunda, e tinha gente que conseguia tirar algo bom daquilo tudo, tinha gente que chegava, e marcava com um cuspe, ou uma mancha de dedo num formato qualquer. Tinha gente que só olhava, e gente que criticava sem ver.


E ela? Como será que se sentia perante a isso? Será que o sentir dela teria alguma importância afinal?

O olhar marejado se escondia no asfalto. As bochechas e olhos escarlate, contrastavam com a paisagem cinza ao seu redor. E suas lágrimas, deixavam rastros de puro arrependimento.

"Mas na verdade, ninguém sente arrependimento por nada. Na verdade, tomados pelo egoísmo, todos pensam que nunca erraram ou vão errar. Todos estão podres, são todos miseráveis, sujos. Me dão desgosto."

Fugir, claro, é oque fazia todas as noites, fugia pra debaixo das cobertas, e consolava-se em pensamentos melancólicos, afogava-se em águas salgadas demais até chegar ao paraíso dos sonhos.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Tão simples

Acordou, lavou o rosto, e foi ler alguma coisa. Cansou-se, foi preparar uma xícara de chá e uma garrafa de café.

Era seu dia de folga, só queria descansar, e curtir seus fantasmas do dia-a-dia.

A campainha tocou, mas não saiu para ver quem era, como eu disse, era o dia de folga dela...

Tomou o chá, e continuou lendo o livro. De tão entediada, permitiu-se ligar a televisão, ver o que de mais escroto passava por ali. Achou tão feio o que via... Foi tomar banho. Saindo, postou-se a frente do computador, sentia o corpo fraco, talvez estivesse pegando um resfriado.

"Almoçou", "jantou", qualquer coisinha que nossa mãe nunca consideraria uma refeição. E entregou-se por completo, finalmente, aos devaneios de sempre.

Foi dormir, sem proferir nenhuma palavra desde que saíra da cama. Tanto era o barulho dentro de sua cabeça, que nem percebeu.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Antes do céu existir

- Vou te apresentar ao Cláudio. Não o conheço muito bem, mas sei que lhe fará mais feliz do que eu pude fazer. Agora vá tomar um banho, faça-o como se fosse seu ultimo, e depois assista seus dois filmes preferidos, durma no meio do segundo, e acorde sem pensar em mim.

Ela o fez, sem entender o motivo pelo qual Leandro fazia isso, se dizia que a amava tanto, por que jogá-la nos braços de outro?
Ela o fez, sem saber que Leandro sofria incessantemente, e o fazia, apenas para vê-la feliz.

(Fui almoçar)

Quis matar a todos quando acordou. A raiva que sentiu ao ver o Sol tão brilhante entrando pela janela era tamanha, e a irritava tanto não ter conseguido assistir um dos seus filmes preferidos até o fim, que desejou que um caminhão entrasse voando bem em sua sala.

(Sai, voltei, sai, voltei, chorei)

"Ele tem cabelos azuis, tatuagem no pescoço e gosta de desenhar. Encontre-o no terraço."
Dizia a mensagem de Leandro em seu celular.

Furiosa, ela subiu, todos aqueles degraus, todos aqueles intermináveis degraus. De tão cansada, esqueceu que estava com raiva. Abriu a porta que dava para o terraço, e avistou uma pessoa. Cabelos azuis, desenhando o céu, assim como dissera Leandro.





quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Pra voltar

A insanidade tomou conta de mim, assim como alguém que chega só pra dizer oi, e acaba ficando para o resto da vida, fazendo-se parte da sua rotina.

Não ligo mais para finais sensatos, ou para uma introdução chamativa, importo-me apenas com o conteúdo da história que quero contar. Hoje estou particularmente sem inspiração. Veio-me a vontade de escrever, vieram-me as idéias, então veio-me o esquecimento e o declínio. Para então melhorar, estou aqui, contra o meu querer.

O que dizer então do dia 13 de janeiro? Muitas pessoas morreram, muitas pessoas nasceram, muitos papéis foram jogados no chão, muitas descargas foram dadas, muitos chuveiros foram ligados, muitos beijos foram roubados, muitas lágrimas foram choradas, muitos sorrisos foram deleitados, e muito ócio foi valorizado. Quantos de nós, agora questiono, quantos de todos nós humanos lindamente sentimentais, esquecemos, seguimos em frente, e lamentamos depois?

Acabou. Derreti-me com tanto amor que sinto por mim mesma. Todos estavam dormindo enquanto o mundo caia em ruínas e se desmanchava nas lágrimas da decepção. Quando foi que ficamos tão feios?

sábado, 17 de novembro de 2012

Nuvens e rabiscos de luz

Não! Não está nada certo, nada! E isso é tão bonito.

É difícil, realmente, muito difícil pensar em apertar o caps lock sempre que vou colocar um "é" no começo de algum parágrafo. São coisas cansativas, massantes, tão insignificantes, mas tão intrigantes, que me deixam assim, exausta. Exausta, tão exausta que vou voltar à fazê-lo, pois parece-me tão bonito, e é realmente.

É bonito demais para parecê-lo. Não parece mesmo não é? Afinal, o que tem de bonito nessas coisinhas pequenininhas do dia-a-dia? Talvez, se te faltasse os braços, ou os dedos, ou o cérebro, isso faria mais sentido. Talvez, até, tu já tenha os perdido...  Talvez, nem lendo isto está, por lhe faltarem os olhos. Ou a alma.

Só acho que devíamos parar de rir calçando saltos. A vida é tão bonita que não deviam ter lhe furado os olhos, pobrezinha. 

Pobrezinha, pobrezinha nada, pobrezinhos de vocês, que não a enxergam. Tenho vontade de rir de todos, calçando minhas pantufas. Ela está lá, bonita como nunca, mas ninguém consegue parar de olhar só para o próprio umbigo... E que umbigo...

O mundo inteiro num umbigo imaginem só. Que utopia seria então o desejo deles? Não ter nunca se separado do cordão umbilical?

O fato é que nada está certo aqui, tão errado que está, que fica até bonito de se ver. Toda essa bagunça, todas essas mentes tortas, toda essa melancolia, todo esse sangue derramado, todos esses cabelos arrancados, todos esses óculos quebrados... Está tudo propositalmente bagunçado, pra que a arte seja feita. Para que a vida seja arte.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Vem ver

Decidida a escrever, pus-me a limpar os óculos. Mas escrever assim sobre o que? Sobre quem? Afinal, qual seria a resposta certa para a pergunta que sempre fazem... de onde vem tanta criatividade? Do ócio talvez... Por ser uma coisa bonita de se por em palavras. Quantos dias terei que passar então em vão para fazer as palavras darem certo? Quantas angústias terei que sentir até torná-las bonitas de se ler?

Pois quem vê beleza no ócio, olha com desconfiança a felicidade que lhe bate a porta, e ao deixa-la entrar, mantém distância suficiente para afirmar ainda que tristeza faz bem ao pensamento, e que reclamar da vida é o novo pretinho básico, todos usam, todos falam, todos concordam, ninguém desconfia.

Ninguém desconfia que bons textos são escritos pelos sentimentos, ninguém desconfia que ao estar aqui escrevendo me sinto apaixonada, e totalmente entregue ao amor, ninguém. E ao mesmo tempo, pego-me deitada no sofrimento, ou vejo-me não vendo nada além do que todos vêem.

Odeio tudo aquilo que amo, mas amo mais do que odeio, pois quando há amor, o ódio não tem mais importância alguma. Assim como sinto necessidade de rir da vida, e não lamentar por ela, afinal, a vida é uma comédia, de humor irônico e até inteligente, que ri de nós quando não rimos dela. 

Decidida a escrever, escrevi sobre oque escrever. E antes de apagar este texto, escreverei só mais uma coisa, uma coisa que pertence aos meus melhores sentimentos, aos meus mais cômicos pensamentos, e ao meu ócio inseparável. Que quanto mais eu escrevo, mais eu vivo, mais eu penso, mais eu sinto, mais eu amo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dança...só

Querido, não se desgaste bolando suspeitas sobre meus pensamentos, acredite ou convença-se a acreditar, que não conseguirá entendê-los.

Nunca fui de me sentir plenamente bem, ou feliz como algumas pessoas aparentam. Pra mim, a felicidade é algo raro que não dura para sempre, e você, me faz sentir exatamente assim, feliz, e triste ao mesmo tempo. Você é como a vida, nem um pouco diferente dos meus pensamentos, e nem um pouco igual aos outros animais deste planeta.

Quando eu te disse que era uma alienígena, achei que as coisas iriam mudar, mas não mudaram. Continuei feliz e triste como sempre estive ao seu lado. Mas Leandro por favor, não se culpe por me fazer sentir assim, hoje como não te disse antes, vi duas ou três - três dizendo exageradamente - baratas mortas servindo de alimento para as formigas, vi uma ou duas pessoas dentro de uma ambulância, e o botão do meu suéter se desprendeu e caiu em cima da barata, ou em cima das formigas, como quiser compreender... Compreenda apenas, que não é culpa sua - apenas - a minha instabilidade emocional.

Você disse que gostava de pessoas estranhas, logo achei que pudesse gostar de mim. Ou eu estava enganada demais para achar que sou realmente estranha, ou você estava despreparado demais para tanta estranheza. Em ambos os casos, gosto de pensar que pensar faz mal ao estômago, paro, e vou comer alguma coisa, ou vou ao terraço ver o céu azul, tão azul quanto o cabelo de Cláudio, embora ele agora esteja nublado e tomado pela poluição... O cabelo.

Estou esperando minha família me buscar, você sabe de onde... E só oque posso deixar-te é um beijo em seu dedo mindinho direito, tão sincero quanto o amor que sinto por você, e a tristeza que tu me transpõe. Tristeza bela, e de tormenta, viciante e repulsiva, tristeza amante, que se confunde, e se perde em cada canto meu, tão seu quanto meus fios de cabelo.



sábado, 13 de outubro de 2012

Sem tempo para sonhar

Como lembrar dos sonhos que tive, se você é a primeira pessoa que me vem a mente quando acordo? Quanto tempo juntos seria necessário para que nossas vidas valessem a pena? Vendo que ele é relativo, e passa demasiadamente apressado quando estou em seus braços, será que uma vida inteira com você seria tempo suficiente?

Não me ofereça o céu rosado de uma tarde qualquer, ou faça juras de amor sem sentido, apenas acredite quando digo que nunca te deixarei só, e nunca mesmo duvide dos meus sentimentos por você.

Mas mesmo que duvide, e diga que não precisa mais de mim, porque todos sabem, mim é uma pessoa muito estressante as vezes... Continuarei pensando em você ao acordar, e não me esforçarei mais à lembrar dos sonhos que tive, pois saberei que todos eles foram menos importantes que uma simples torta de maçã. Oh, não se deve subestimar os sonhos, eu sei, cometi um grande erro ao faze-lo, perdoe esse deslize meu, quero continuar sonhando, sonhos felizes, tristes e até assustadores, mas por favor deixe-me continuar com eles.

O que seria da vida se não os sonhos? E pensar que você, meu amado, foi o meu por muito tempo, e que agora posso tê-lo em meus lábios, os mesmo lábios que se esforçavam para perguntar sobre o preço das frutas numa feira qualquer de terça-feira. Me tens por completo, e quero ter-te também por completo, pois sei que nem todo o tempo do mundo seria o suficiente para nós dois.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Pés de pantufa

Eu estava andando pela rua hoje de manhã, sabe, só andando e pensando... Pensando em nada e ao mesmo tempo em tudo. 

Essa cidade ta um lixo, esse mundo ta um lixo! Andava pela calçada e só oque eu via eram excrementos de cachorro, ou sabe-se lá de qual outro animal. Lembrei instantaneamente de algumas pessoas, de muitas pessoas. Algumas delas eram assim mesmo, pareciam um amontoado de bosta se rastejando pelo mundo, exalando seu odor podre por toda parte e juntando parasitas no caminho.

Eu me via diferente, claro, qualquer um que visse a si mesmo como um monte de bosta tem problemas sérios. Eu me via diferente, mas não melhor ou pior, só alguém que não era tão idiota como o resto da sujeira do mundo.

É assim mesmo afinal, vamos ficando velhos e aos poucos largamos a vaidade, aos poucos deixamos de nos preocupar com o cabelo despenteado, ou com os sapatos sujos, ou até com os diálogos. Até que vem alguém e chuta o nosso rabo, fazendo-nos perceber oque estava evidente para todas as outras pessoas: que estamos chatos pra caralho.

Fazer o que? Eramos assim e vamos continuar sendo, velhos largados e velhas chatas. Damos graça ao mundo, rendemos algumas risadas e bons deboches. 

Mas uma coisa é certa, e eu falo com a convicção de meus bigodes brancos, não se fazem mais pessoas como antigamente.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Hipermetropia

Chega a dar dó, ver ela assim tão confusa, pobrezinha. Tão experiente com relação aos problemas dos outros e tão tola com os próprios. Deve ser assim mesmo, quanto mais próximo os problemas estão, pior é a visão que temos deles. A hipermetropia da vida é o problemas de todos os covardes, não é totalmente uma escolha, é quase uma doença. Vai se agravando se deixarmos de lado, vai se amontoando com outros tipos de problemas.

São muitos problemas para um único parágrafo, eu sei. Mas qual problema é tão grande quanto aquele que carregamos dentro de nós mesmos? Impregnado em nossos olhos, ele só faz a crescer, e deixamos que ele cressa e tome conta de nossa vida. Deixamos de enxergar então, nossa consciência fica cega, e tudo o mais parece normal, quando está na verdade banhado pela hipermetropia social.

No aquário errado

Tudo oque eu queria era ser adorada, apenas, ser adorada pelo que sou. É muito a se pedir? Oh Deus, por favor não me castigue pelo aparente egoísmo. Eu sou apenas uma garota que não quer crescer e enfrentar todas essas pessoas frias. Estou fazendo o máximo, e o senhor sabe disso.

Meus pais, eles foram levados a muito tempo atrás, eu era apenas um criança de 5 anos, mas lembro de tudo, como se fosse ontem. As luzes, aqueles seres gigantescos e brancos, totalmente carecas usando um sobretudo preto, eles os levaram para seu planeta, muito, muito longe daqui. Desde então, não sou adorada por mais ninguém, meus pais eram os únicos que podiam me proporcionar este sentimento que tanto me falta agora.

Ultimamente tenho ouvido algumas vozes nos meus sonhos, como se fossem avisos, algo como "sua bolsa... diga adeus", não é nada demais, eu sei, tão pouco faz sentido, mas eu acordo tão angustiada e solitária que começo a chorar, e me questionar se Deus realmente está comigo, mesmo sabendo que ele está em todos nós ao mesmo tempo por inteiro, e que nos adora. Mas está sendo tão difícil...

Está tão frio, tão seco. As pessoas são mesmo miseráveis, só pensam nelas mesmas! Não medem mais palavras, não sentem mais empatia, não... Não vivem mais, elas só... Argh, que vontade de matá-las! Perdoe-me.

Talvez eu seja mesmo egoísta, eu só não consigo aceitar esse modo de "viver", tão sério, tão... Cinza.

Oh me mate se for preciso, só não quero mais ter de viver num lugar onde essas criaturas rastejam.

Mas o que é aquilo? Um avião? Não, são eles, os mesmos seres que apareceram 15 anos atrás, eles vieram me buscar. A energia que me levanta é tão... Oh estou tão feliz, finalmente, poderei me sentir adorada novamente, pelos extraterrestres, não... Por meus pais.

Estou nas estrelas! Mas minha bolsa ficou, ali naquele asfalto quente, e anos se passaram, e ninguém percebeu.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Estrela cegante

"Você é a garota de suas histórias."
Disse Cláudio tão convicto que barrou qualquer palavra que Clarisse pudesse proferir ali, naquele momento.

Tão encantador como sua face se enrubescia toda vez que recebia o beijo dele, e como as borboletas em seu estômago nunca cansavam de se agitar.
Já iam fazer 5 meses, e eles agiam como se fosse a primeira vez, as palavras, o amor, tudo. Nada havia saído do lugar, nenhuma palavra era massante demais para aqueles corações, e nenhuma situação chagava a fazê-los duvidar de sua paixão.

Como ele descobrira? Afinal, escrevia de modo tão indiferente sobre seus personagens que qualquer um pensaria que eram apenas fictícios. Estava certo de qualquer modo, ela era sim a garota de suas histórias, errante e tola. Cláudio fora a única pessoa por quem Clarisse declarara amor, talvez seja por isso que podia entende-la com mais clareza, ou realmente a amava tanto que chagava a saber de mais coisas que ela própria.

Os dias passavam tão felizes ao lado dele, o tempo parecia não fazer mais sentido, tão sem sentido era então que acabava por esquecido.

Uma imensidão de cores era sua vida agora, e nada, absolutamente nada podia desbotar aquela felicidade.

sábado, 8 de setembro de 2012

Nada

Canso, logo esqueço.
Quão vazia é então minha vida repleta de esquecimentos.
Mas... e quando eu me cansar da vida?

O ventre em que nasci, o paraíso em que vivi, o inferno em que queimei, nada e nenhum lugar se compara ao que hoje sinto, um vazio inexplicável, que cresce a ponto de me matar por dentro , a ponto de me fazer um nada, apenas um corpo que anda e sobrevive. Nem desgosto eu sinto mais, não sinto nada, isso é o pior, é como se eu fosse um robô velho e defeituoso.

A melhor solução então seria livrar o mundo da minha presença, não faria diferença alguma mesmo, uma lápide nova no cemitério surtiria mais efeito do que meu corpo rastejante. Mas eu ainda quero sentir. Oh como eu quero voltar a sentir! Uma trouxa que ama, ou uma tola sofredora que seja. Deus, trocaria todas as minhas calças por isso...


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A escola A

Imaginem um grande filósofo sendo ressuscitado nos tempo de hoje. Quando digo "grande filósofo" me refiro à alguém como Platão, não um integrante dos sofistas, não, não os chamem de filósofos.


"Como pode, em um futuro tão distante a humanidade não ter evoluído nada em termos de reflexão? Ou melhor. Ou pior! Como pode a humanidade ter regredido tanto?"



Seriam suas palavras. E provavelmente se enforcaria desgostoso. Acredito eu, uma garota que faz parte dessa humanidade tão pouco evoluída...

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O monstro verde

Eu tentei, juro pra você caro leitor que tentei! Mas tentar... tentar não é conseguir.

Sua boca continuava a me perturbar, dizendo palavras tão insinuosas e marcantes. Fechava meus ouvidos, apertava-me a cabeça, arrancava-me os cabelos, gritava! Mas não conseguia tirá-la da mente. Meu maior amor, minha maior decepção.

Usar outras pessoas como modo de fazer a esquece-lá de nada adiantou, saí com uma ou duas mulheres depois daquilo, mas nenhuma delas me atingiu como fizera Clarice.

No dia em que tocamos juntos, meus dedos nos dela e vice versa, eu sabia que aquela era a única que conseguira derrubar o grande muro que demorei anos a construir em volta dos meus sentimentos. Sem proferir nenhuma palavra nós tocamos o piano daquela sala mal iluminada, que era minha preferida de todo o prédio, foi melhor assim pois ainda não dominava por inteiro a língua portuguesa, havia voltado da França há um mês e meio, dois no máximo.

Sejamos felizes então ao saber do sentimento mútuo. A verdade era que eu amava Clarice e ela a mim. Com uma pequena diferença quanto a intensidade do sentimento, coisa pouca e relevante. Coisa que não devia ter ignorado naquela época.

Os dias passaram lindos, lindíssimos! Algumas diferenças descobertas ali, outras semelhanças aqui, outras brigas mais pro lado de cá... E assim foram até a morte. Minha e do nosso amor.

Eu a amava e não restava dúvida. Mas Clarice estava um tanto insegura quanto a isso, pela minha falta de demonstração talvez. Não, talvez não, fora totalmente por essa razão.

Lembro do pedido egoísta que fizera para ela logo no começo de nosso namoro. "Prometa que será minha e apenas minha. Ande prometa." E ria como se acreditasse em todas as palavras ditas por aquela mulher.

Como as nuvens densas chegavam acabando com a promessa de um dia ensolarado, nossos dias de namorados também enevoaram-se. Enevoaram e se molharam com a maior tempestade que viria a cair.

Tudo oque vi foi um garoto de cabelos azuis, alto, e com a Minha Clarice entre os braços. Minha vontade foi de matar, ambos. Me contive em separá-los com um empurrão tão forte que fez o garoto arregalar os olhos de surpresa, e não disse nada, as palavras simplesmente não saiam, estavam presas, e meu corpo fez o trabalho de expressa-las. Peguei-a pelo braço, enquanto esta me fitava como se pedisse desculpa com os olhos. Sentia tanta culpa e desprezo de sua parte que a vontade de se desculpar agora era minha, tendo sido um homem tão incompreensível e egoísta em todo o nosso relacionamento. Perdi minhas forças, soltei seu braço, senti meu rosto se molhar, e morri. Morri e continuei a andar.

Até hoje evito reconstruir meu ser, meu ser que era tão dela, e que se desmoronou no que eu achava que era tão nosso, e só nosso.



sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sua própria heroína

Olhos arregalados. Passos tropeçantes. Ela estava procurando a pessoa certa para matar.

Com a faca no bolso maior da mochila, e as mão geladas dentro do bolso da blusa, Roberta se afundou na cidade noturna. Saiu para matar, ou seja la oque a fizesse sentir algo por alguém. Piedade, nojo, amor, medo... só queria sentir.

Havia um jovem encostado em uma lixeira, na verdade caído nela. Perecia com ela, andando sem sentir os passos.
Era ele quem devia morrer.
Sem se importar com as outras pessoas, tirou a arma da mochila e passou-a no pescoço do garoto, recebendo os pingos de sangue que jorraram em seu rosto. Com olhos arregalados e a boca agonizante, ele tentava gritar. Tentou ao máximo impedir a próxima facada, mas ela estava forte demais, como se uma coisa sobrenatural estivesse em posse do seu corpo. Foram assim, uma, duas, três, quatro no pescoço e duas no peito. Precisaram três policiais para parar aquela garota. Seguraram-na pelo braço e arrastaram para trás, até esta cair e ali permanecer, suja de sangue e vazia.

Um policial com bigode em forma de rato se aproximou, e enquanto separava-a da faca perguntou:
-Por que você fez isso menina?
Ela "acordou", olhou para ele, e depois para si mesma, e começou a chorar, desesperadamente.
-Minha alma esta queimando não vê?! Eu perdi minha vida! Isso não é motivo suficiente para querer matar alguém?!
O homem com um rato sobre os lábios não sabia se a levava para a prisão ou a um psiquiatra.

Não era suficiente matar a pessoa mais semelhante a si, ainda não se sentia livre dela mesma.

Pegou 25 anos de prisão. E no quinto mês, conseguiu comprar heroína com alguns "colegas" que fizera na cadeia, que por sorte, veio propositalmente misturada com chumbinho. Ao começo do efeito da droga, Roberta começou a ter uma forte convulsão, seus olhos esbugalharam e envesgaram para cima, sua cabeça batia no chão como um martelo num prego. Era agonizante de ver. Mas não tão agonizante quanto viver a vida que aquela garota levou, até morrer ali, no chão da sua cela na prisão totalmente sozinha.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Entre um herói e outro

Odeio hálito de fumantes. Me lembram velhos nojentos e descarados. Mas o dono daquele hálito, o dono daqueles lábios que me beijavam tão carinhosamente, era jovem e esguio.

Enfim, cedi e acendi um cigarro em minha boca, até ficar com o mesmo cheiro cinzento que tão pouco me agrada. Nos amamos numa amargura indistinguível, até nossos pulmões semi falecidos se sentirem vivos novamente.

Entreguei meu corpo àquele que me ofereceu o mais singelo elogio. Agora sofro com o vazio que só faz a crescer em meu peito... Um vazio que não pode mais ser disfarçado com caras de uma noite encontrados nos diversos lugares dessa cidade.

Mas por que há tantas pessoas fúteis e desgraçadas nesse mundo? Me pergunto se um dia acharei a pessoa que merecerá compartilhar minha profunda melancolia, meus desejos mais insanos, minha estranheza sem fim... Ou seria melhor continuar a viver sozinha, nessa quitinete minúscula e imunda, me consolando com vinho barato e transas convencionais com desconhecidos.

Tudo oque agora era de meu conhecimento, escapava-me entre os dedos. Eu estava ficando burra, estava prestes a me entregar aos sentimentos, quando em sonho, um ser inextinguível raspou meu cabelo, como se tirasse da minha mente todas as perguntas que tanto me atormentavam. Incrivelmente, ao acordar, o mundo não parecia mais tão claro a ponto de se tornar ridículo.

Os vinhos envelheceram... E eu finalmente me aceitei como uma pessoa, um ser humano.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O beijo da vida

Em dias comumente azuis e brancos, alguma surpresa rosada pode surgir ao entardecer.

As pessoas não se sentem confortáveis vivendo no mundo em que estão, e isso é um fato palpável ao percebermos, por exemplo, que quando estão na rua olham para o céu, e quando estão no alto de um prédio olham para a rua cheia de seres tão minúsculos e miseráveis.

Estava decepcionada consigo mesma. Seus olhos que um dia captaram histórias incríveis em uma imagem qualquer, hoje não viam nada além do vulgar desenho das nuvens. Como pudera fazer de sua própria vida um cenário socialmente correto, sem graça e cinzento? Perdera o ar. Pior! Desistira dele.

Onde estava Cláudio para lhe entregar outro pedaço azul de papel? Ou Leandro para trazer pensamentos claros e revigorantes? Não podia. Precisava trazer de si mesma a felicidade rosada que tanto almejava. Aquela que nos irradia como o toque do primeiro raio de luz do dia, que nos da a leveza de um amanhã menos importante que o agora, que nos traz de volta a respiração.

Ela passou horas observando o céu, seu maior confidente. Fitava-o como quem procura alguma resposta dentro de si, fitava-o com seus olhos úmidos feito pétalas após um dia chuvoso, tão delicados, tão insinuantes... E percebeu que havia beleza também nas nuvens cinzentas, que os sonhos vinham da satisfação de seu passado e que o universo era maior e mais tocável do que imaginava.

Seu longo cabelo agora era o único a pesar em seu corpo, a pele branca havia retomado um brilho fascinante, seus dedos gélidos tocavam com mais sabedoria, os olhos viam mais cores e seus pés tropeçavam com mais elegância.

"Quão pesada é uma vida fadigada..." Sussurrou pela brisa.

Seu rosto corou como se fosse chorar, mas não o fez, seus joelhos gelaram, mas não cederam... Ali começava a transformação de sua alma. Uma nova Clarice surgia das cinzas da angústia, para fazer de seu futuro o melhor passado que alguém pudera ter.

domingo, 29 de abril de 2012

Diário de Clarice II

Procurar palavras que descrevam o amor é perda de tempo. Um sentimento tão forte e lindo não pode ser definido por palavras tão complexas. Porque não apenas senti-lo?

Eu o encontrei novamente, na feira, pedindo maçãs com um sotaque francês tão espontâneo que fez meu coração disparar, e meus olhos brilharem como se estivessem úmidos por lágrimas.
Leandro era francês. Isso explica seus olhos curiosos de turista, e os lábios ansiosos pela próxima palavra.

Fiquei observando-o por bastante tempo. As vezes imaginava ir falar com ele, um "Bonjour" poderia lhe chamar a atenção, ele então me veria, se apaixonaria a primeira vista, e viveríamos felizes. Ou acharia-me louca e ignoraria completamente, depois de um olhar cortante de desgosto claro. Ele se foi... e eu também. Minha dose diária de sentimentos melancólicos, os realistas, me esperava tristemente em casa.

Será mesmo o amor essas cóseguinhas no estômago? As melancolias do dia-a-dia deram solidariamente espaço para os devaneios apaixonados. Ah como é bom devanear. Tão claros e alegres.

Eu me denunciava por completo, como se gritasse ao mundo, "Eu estou estranhamente apaixonada!". Me denunciava, como bocas que denunciam mentiras, olhos que denunciam desejos, ou gestos que denunciam a insegurança. 

Era sincero, e não ligava se fosse para sempre ou para agora e apenas agora. Eu estava feliz, eu estou feliz, e isso é o que devia importar.

Se você soubesse, que só o fato da sua existência me tranquiliza, e que o som de sua respiração me faz sorrir, se você soubesse, que te amo, tanto, não saberia mais de nada, do preço das maçãs, ou da língua portuguesa que fala tão esforçadamente.

Iria existir só eu, e você, e nosso mundo se formaria, e desmoronaria todos os dias, assim como deve ser.

                                                                                                                                                                                                                 Je t'aime, et seulement.

Ruínas

Desabou suas lágrimas no peito de Cláudio, abraçou-o como se nada fosse mais confortante. Vendo aquela criatura tão frágil, molhando sua camisa com lágrimas guardadas já a muito, ele percebeu que esta sempre fora a dona de seu verdadeiro amor. Envolvendo-a nos braços, fez-se o melhor consolo para Clarice.

Um borrão preto de olhos se mostrou, e dentro deles, um brilho tristonho olhava para olhos verdes tão apaixonados.

Quem sabe quantas palavras cabem em um único gesto, sabe o quanto Clarice agradeceu por ter Cláudio naquele momento.

Nenhum beijo se deu, nenhuma palavra se proferiu, apenas um abraço banhado de lágrimas encerrou aquela tarde tão agonizante.


sexta-feira, 6 de abril de 2012

"Você pensa que ninguém lhe entende, quando na verdade, todos pensam como você"

Desejos

Uma, duas semanas se passaram e Clarice quase morrera de tédio. Estava cansada de tudo e de todos, seus pulmões caíram. Tornara-se o tipo de pessoa mais odiável por ela, os sobreviventes.

Vivera do sonho até não reconhecer mais sua própria realidade. O ócio, seu companheiro inseparável dos últimos dias, a fazia um mal terrível. O que de melhor podia-se fazer se não então pôr por escrito todos os seus pensamentos e desejos? Em um pedaço de papel escreveu:


"Traga-me o amor, por favor, com tudo que lhe é direito. O sofrimento desconhecidamente mútuo, as lágrimas aparentemente inesgotáveis, a ansiedade trêmula, a decepção dolorosa, o prazer aflitivo, a felicidade infinita, o medo da perda, a perfeição em meus olhos, e a ligação do meu coração.

E se puder, traga também algumas cartas apaixonadas e fotos reveladas, para que eu possa guardar em minha caixa vermelha da sapato, as lembranças desse amor que nunca à de terminar."


Queimou-o em sua janela, na esperança de que alguma força divina encontrasse e realizasse seu desejo tão egoísta.

Sem perceber, uma brecha enorme fora aberta em seus sentimentos. Saiu, não aguentava mais permanecer dias inteiros dentro de casa. Pegou o suéter vermelho do cabide, amarrou os braços contra o peito e afundou-se cidade adentro. Estava um dia frio, porém ridiculamente claro. 
O Sol brilhava orgulhoso em seu pico, apontando todos os defeitos daquela garota de mente perturbada. O sorriso do malabarista no sinal vermelho parecia debochar de seu rosto tomado pela tristeza. Pobre Clarice. Seu coração apertado a matava tortuosamente, e ninguém conseguia entender.

O botão de seu suéter caiu, por uma linha vermelha mal costurada. Rompera-se. E aquilo foi motivo suficiente para fazê-la chorar.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Nuvens azuis

Ele foi visto, Cláudio foi visto no terraço, pintando o céu numa folha de papel, o qual estava tão azul quanto seu cabelo.
Estava satisfeita apenas por poder observá-lo a seguros 2 metros de distância, sentindo toda aquela nostalgia inexplicável.
De repente, viu-se fitada pelo homem de sua paisagem. Alguns segundos que pareceram algumas horas.
A fitação mútua, nada mais acelerante para o coração. 
Porém os dois continuaram neutros, calmos, como se seus olhares se encontrassem constantemente.
Levantou-se, com o papel e o lápis na mão, andou em direção a Clarice, e entregou-lhe o desenho. Uma ultima olhada antes de descer as escadas...
Ela ficou parada, ali em pé, segurando o desenho que lhe fora entregue por mãos tão gélidas. A paz emanava em todo o seu ser, o coração batia harmoniosamente, não raciocinava, só sentia, sentia suavemente como a brisa lhe tocava a face, e como sua vista ia muito mais além dos prédios da cidade.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O amor

Amores compatíveis. Se apaixonava por carcaças, e sonhava com alguém que lhe amasse por inteira. Era sim, perturbada em seu interior e estranha em seu exterior.
Mas que paixão grotesca seu coração poderia suportar? Grotesca o bastante para identificar-se paixão, ou de menor impacto, que pudesse ser confundido com algo passageiro.
A realidade era, que não a paixão, mas sim o amor, era oque aquela garota procurava, procurava em vão, pois estava la, dentro de si, bastava olhar com um pouco menos de sabedoria.
O amor floresce sem pressão, sem visão, apenas sente-se, sente-se sem olhos arregalados, sorrisos desperdiçados, ou bochechas rosadas. Sente-se naturalmente, com os dedos frios, a cabeça aflitiva, e os olhos às lágrimas. Ele mete medo, nos que não o enxergam, nos que o confundem, traumatizam, viciam. Ele causa paz, perturbação, tristeza, felicidade, arrepio, nervos aflorados, cerram os dentes, abrem os lábios, secam a saliva, faltam com o ar, nos que realmente sentem. Não certamente, o amor não é certo, é sim uma eterna interrogação , passada de tempos em tempos pela ignorância de nossos próprios pensamentos.