sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sua própria heroína

Olhos arregalados. Passos tropeçantes. Ela estava procurando a pessoa certa para matar.

Com a faca no bolso maior da mochila, e as mão geladas dentro do bolso da blusa, Roberta se afundou na cidade noturna. Saiu para matar, ou seja la oque a fizesse sentir algo por alguém. Piedade, nojo, amor, medo... só queria sentir.

Havia um jovem encostado em uma lixeira, na verdade caído nela. Perecia com ela, andando sem sentir os passos.
Era ele quem devia morrer.
Sem se importar com as outras pessoas, tirou a arma da mochila e passou-a no pescoço do garoto, recebendo os pingos de sangue que jorraram em seu rosto. Com olhos arregalados e a boca agonizante, ele tentava gritar. Tentou ao máximo impedir a próxima facada, mas ela estava forte demais, como se uma coisa sobrenatural estivesse em posse do seu corpo. Foram assim, uma, duas, três, quatro no pescoço e duas no peito. Precisaram três policiais para parar aquela garota. Seguraram-na pelo braço e arrastaram para trás, até esta cair e ali permanecer, suja de sangue e vazia.

Um policial com bigode em forma de rato se aproximou, e enquanto separava-a da faca perguntou:
-Por que você fez isso menina?
Ela "acordou", olhou para ele, e depois para si mesma, e começou a chorar, desesperadamente.
-Minha alma esta queimando não vê?! Eu perdi minha vida! Isso não é motivo suficiente para querer matar alguém?!
O homem com um rato sobre os lábios não sabia se a levava para a prisão ou a um psiquiatra.

Não era suficiente matar a pessoa mais semelhante a si, ainda não se sentia livre dela mesma.

Pegou 25 anos de prisão. E no quinto mês, conseguiu comprar heroína com alguns "colegas" que fizera na cadeia, que por sorte, veio propositalmente misturada com chumbinho. Ao começo do efeito da droga, Roberta começou a ter uma forte convulsão, seus olhos esbugalharam e envesgaram para cima, sua cabeça batia no chão como um martelo num prego. Era agonizante de ver. Mas não tão agonizante quanto viver a vida que aquela garota levou, até morrer ali, no chão da sua cela na prisão totalmente sozinha.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Entre um herói e outro

Odeio hálito de fumantes. Me lembram velhos nojentos e descarados. Mas o dono daquele hálito, o dono daqueles lábios que me beijavam tão carinhosamente, era jovem e esguio.

Enfim, cedi e acendi um cigarro em minha boca, até ficar com o mesmo cheiro cinzento que tão pouco me agrada. Nos amamos numa amargura indistinguível, até nossos pulmões semi falecidos se sentirem vivos novamente.

Entreguei meu corpo àquele que me ofereceu o mais singelo elogio. Agora sofro com o vazio que só faz a crescer em meu peito... Um vazio que não pode mais ser disfarçado com caras de uma noite encontrados nos diversos lugares dessa cidade.

Mas por que há tantas pessoas fúteis e desgraçadas nesse mundo? Me pergunto se um dia acharei a pessoa que merecerá compartilhar minha profunda melancolia, meus desejos mais insanos, minha estranheza sem fim... Ou seria melhor continuar a viver sozinha, nessa quitinete minúscula e imunda, me consolando com vinho barato e transas convencionais com desconhecidos.

Tudo oque agora era de meu conhecimento, escapava-me entre os dedos. Eu estava ficando burra, estava prestes a me entregar aos sentimentos, quando em sonho, um ser inextinguível raspou meu cabelo, como se tirasse da minha mente todas as perguntas que tanto me atormentavam. Incrivelmente, ao acordar, o mundo não parecia mais tão claro a ponto de se tornar ridículo.

Os vinhos envelheceram... E eu finalmente me aceitei como uma pessoa, um ser humano.