sábado, 18 de janeiro de 2014

Morreu?

Eu queria morrer! É toda essa coisa de adulto, sabe? Empregos, estudos, jornais. Ah, nem sei mais... Virei fantasma, fantasma sentimental.

Eu queria morrer! E chorei, e gritei, e questionei tanto... Por que tinha que sentir meu coração queimar daquele jeito? O que eu havia feito de errado para manchar minha vida como fiz?

Ah, nem sei mais... Acho que estava morrendo mesmo de tristeza.

Parei. Do nada parei. Aceitei ir com a morte até Deus ou até o Diabo que nos segue. Disse adeus e tudo. Respirei fundo me endireitando e já não sentia mais coisa alguma além de paz e ar. Mesmo assim chorava, mas chorar assim por que não sabia mais.

Foi como se os sentimentos escuros tivessem se esvaído pelas costas. Os escuros e todos os outros. Se foram tão furtivamente que nada mais sentia.

A paz foi tanta que achei realmente ter morrido. E morri mesmo de tristeza. Morri até os cabelos.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Um décimo

"Com licença moça, mas acho que você está com a minha alma"

Eu disse tal tolice, mas claro, eu havia vendido-a, não importava com quem estaria agora.
As vezes acho que estou ficando louca, como se os 10% de alma que ainda me restam dessem sinal de alerta para não querer recuperar mais o resto. 

Começa com uma floresta bem espaçada, árvores, árvores, pedras, árvores, musgo, grama... Não é como se eu andasse e observasse um cenário assim, mas como se fossem apenas imagens passando pela minha cabeça. Pode ser loucura ou apenas vazio, iguais aos espaços entre as árvores, se for vazio é culpa minha, se for loucura... é culpa dos 10%.

É assim mesmo, eles deixam um restinho de alma só pra nos sentirmos patéticos e loucos. Pois é a alma que cuida da parte sentimental certo? Pelo menos foi isso que eu entendi dos filmes. 

Se pensarmos bem, e levarmos em conta a teoria de Jean-Paul Sartre de que a existência precede a essência, posso dizer que acabei com todo o meu ser, ou que apenas um décimo dele era mesmo meu, e esse um décimo está me deixando louca, quando o resto fazia-me sã, porém pesada e discretamente raivosa.

Um dia porém, não foi só a loucura que se manisfestou, assim como ela, vieram medo, tristeza e desespero.
No meio de todas aquelas árvores, daquele vazio, estava a verdade, a certeza universal de que teria um dia, que encarar a face da morte. Foi a primeira vez que chorei desde a venda, chorei como uma criança que construiu ainda pouca coisa de sua essência. É muito errado questionar as ordens do universo? "Não quero morrer, não quero deixar de existir." repeti inúmeras vezes desesperadamente, mas as ordens do universo não iriam mudar, ainda mais se não pedirmos por favor.

Eu tinha uma amiga que imaginava transar com todos os seus professores, não todos de uma vez, um por um, não se importando em ser uma aluna vadia. Mas apenas imaginava, nunca chegou a fazê-lo realmente, não que eu soubesse. Perguntei se não se arrependeria depois por ficar apenas imaginando, e ela disse que tinha ainda muito tempo para imaginar e muito mais para poder realizar, e quando a hora certa chegasse, seria a aluna mais vadia de todas. Seu funeral foi na semana passada. Descobri que ela havia comprado minha alma, e que morrera assassinada pela esposa do seu professor de cálculo.

Só disse isso pra esclarecer a banalidade com que as pessoas tratam a morte. Mesmo vendo isso e vivenciando, meu restinho de alma grita pela imortalidade.

Os 10% ficaram porque tinham que ficar. Eu sei que vou sofrer, mas vou cuidar deles até meu último suspiro, para que tenha valido a pena chorar por todo a minha vida.