quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O limpador de almas

Seu corpo continuara imóvel, seus olhos fixos em uma única direção, olhava, mas não enxergava. Encontrava- se ali, o corpo de uma garota que perdera a alma, completamente. "Quer tocar?" foram as últimas palavras que soaram em seus ouvidos. Quando dera por si, estava lá, sentada num banco largo, a beira de um piano velho e empoeirado, enquanto seus dedos deslizavam tecla por tecla envolto nos dele. Não havia a necessidade de proferir palavra alguma, melhor assim, pois sua garganta agora era feita de nós. Nós de angústia. Sem mais, sua face via-se encharcada de lágrimas, suas lágrimas. Lágrimas de tristeza, angústia, lágrimas de alegria, e de dor, lágrimas apenas, lágrimas, de uma menina, que entregara a sua alma para o amor.

Canção empoeirada

Solos demasiadamente lentos, acordes graves batidos como martelo em pedra. Uma música horrível de se apreciar, uma música que prendeu, a atenção dos ouvidos de Clarice.
Não conseguiu identificar logo de início, nem ouvindo a música até o final. Mas sabia que a ouvira em algum lugar, estava lá, guardada em seu coração. Os dedos que deslizavam nas teclas empoeiradas do piano tinham a magia de hipnotizar. Dó Mi Sol, e por la foram aleatóriamente em seus dedos formando bolos poeirentos e cinzas de ácaros.
Oh mas a música lhe envolvera tanto a alma, esta que vinha de uma salinha minúscula, lar de um piano velho e solitário com um vulto instalado a sua frente, tocando como se o mundo estivesse em pedaços, e ele fosse a única pessoa residente no universo. Era Leandro, e ele era sim, a única pessoa no universo, no universo daquela garota dos mais enigmáticos cabelos negros, coisa que ela descobriria algum tempo depois.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Uma pequena reflexão minha

Sempre tive medo de palhaços. Um homem de cara exageradamente pintada, trajado em roupas coloridas e nos pés, calçando sapatos de numeroso tamanho. Em nenhum instante isso me pareceu boa ideia, muito menos divertido.
Palhaço, sei que no seu coração habitam mais tristeza do que um homem pode suportar. Sua pintura é sua máscara, disfarçando bocas caídas de pura infelicidade. Tu não me enganas. Sinto pena e medo da sua figura. Não percebes que de nada mais adianta essa máscara? Seu coração já está tão pesado que transborda por todo o seu circo.

O picadeiro pegou fogo! Todos saíram, apenas um ficou, enquanto seu rosto se disfasia em suor. Adivinha quem era.

Breve história antiga

Cheguei!!!!!
O grito ecoava toda a noite, e enchia o palácio de felicidade e inquietude, quebrando o tédio que la reside até às 18:00.

- Bem vindo de volta papai. Como foi o dia?_ dizia docemente Sophye, uma graciosa garota de temperamento forte.
- O de sempre minha querida filha, não quero aborrecer-lhe com meu dia tedioso. Mas acabo de lembrar-me de um caso inusitado ocorrido hoje._ seu rosto enrugado de meia idade se esticou em um sorriso de satisfação.
- Oh não, não diga isso. Nunca é um aborrecimento de minha parte ouvir como anda a vida do senhor. Agora conte-me o que aconteceu de tão inusitado.
- Certamente lembra-se da Sra. Burts não é? Aquela dos galos.
- Certamente que sim. Os galos dela cantam a madrugada inteira. Oh meu Deus, ninguém consegue dormir nesse palácio.
- Isso mesmo querida._ suas grandes e escuras olheiras já diziam por si só_ Estava a ponto de iniciar meu trabalho, quando vejo a Sra. Burts vindo em minha direção, não tardei a cumprimentá-la. O diálogo fora quase assim: "Bom dia Sra Burts." "Bom dia Sr. Midleton. Ora desculpe-me dizer, mas está com a aparência horrível!" "Evidente que sim, suponho que seja pelo canto de seus galos à altas horas da madrugada. Oh, eles não perdoam ninguém!" "Esta supondo que meus galos, meus lindos galos são barulhentos? (seu rosto era de indignação profunda)" "Claro que sim. A senhora não acha?" "Ora seu!"
- Papai! Mas o qu..._ Papai não a deixou falar.
-Deixe-me terminar primeiro filha. Não tardou para que o dono da fazenda fosse ver o que raios estava havendo ali na porta de sua propriedade. Chegando lá avistou um senhor de meia idade em ótima forma_ referia a si mesmo_ discutindo com uma senhora velha. Fui demitido. _ dizia tais palavras como se fossem as mais comuns do mundo. Como "acabou o leite".
- Um senhor de 50 anos agindo como se fosse um adolescente de atos inconsequentes. Não tem vergonha papai?
- Claro que não Sophye. Sabe muito bem que meu espírito é jovem, sou velho só na idade. E além do mais, a vida é curta demais para ficar lamentando atos inconsequentes.
- Ai papai. O senhor não muda mesmo.
Um abraço apertado e carinhos encerrou a história. De nada adiantava levar aquela conversa adiante.

Steve Midleton era um homem rico de meia idade. Não necessitava trabalhar, porém seu espírito jovial o impedia de ficar em casa a espera da velhice e consecutivamente a morte. Enérgico e muito entusiasmado, realmente parecia um garoto de 17 anos, inteligentíssimo, provia da maior sabedoria de todas, a sabedoria de saber viver. Vivera, tivera uma filha, linda de olhos amendoados, e morreu.

Havia um corpo deitado no sofá da biblioteca, e havia uma garota de olhos amendoados que acabara de chagar.
- Papai, os galos estão novamente a cantar._ ouviu-se o riso inocente ecoar pela sala.
Pobre garota.
Não houve nenhuma resposta. mas seu coração sentiu, um estrangular torturante.
-Papai?_ chegou mais perto a ponto de não ouvir sua respiração, a ponto de sentir sua pele dura e gelada. Não preciso dizer que a garota entrou em pânico.
-Papai acorde! Papai! Ouça, esses galos não estão me deixando dormir! Ouça! De um jeito neles Papai! Por favor Papai! Por favor!!!!!
Seu rosto se banhava em lágrimas, sua garganta era só soluços, e o desespero a tomava por completo. Sabia que um dia isso viria a acontecer, oque não sabia é que seria tão insuportável.
Pobre garota.

Entre os dedos duros a arroxeados, uma carta.

"Querida Sophye.


Tive que partir cedo demais, meu espírito era jovem como todos sabem, porém, meu corpo já estava gasto, e o câncer só vinha a piorar. Desculpe-me por não ter contado antes sobre a doença.
Há 2 anos descobri que meu fígado desenvolvera um tumor maligno. Me deram o prazo de 1 ano. Resolvi usar o tempo a meu favor, e vivi, como a vida deve ser vivida. De nada adiantaria permanecer mofando em uma cama. O câncer não estava se desenvolvendo com tanta rapidez como os médicos previram, mas de um ano para cá, cresceu de forma incontrolável, me pondo no estado que aqui estou agora.
Só quero que saibas, filha, que tu és meu bem mais precioso, e que meu amor por ti nunca, digo e repito, nunca se acabará. Não estou mais aqui, mas saiba, que aonde eu estiver, estarei olhando por ti, te guiando da maneira mais suave para os melhores caminhos e zelando por sua felicidade.(Nessa hora as lágrimas em seus olhos aumentaram de um modo que quase a impediu de ler o restante da carta)
Desejo que goze da vida tudo oque ela tem a oferecer, e que sempre tenha esse seu lindo sorriso no rosto.


Te amo muito, e sempre te amarei."


Lá estava a garota, curvada sobre o corpo do pai falecido.
Cheguei!!!!! Ecoava na entrada principal. Um ecoar gritante, silencioso e torturante.

sábado, 15 de outubro de 2011

Diário de Clarice

Esta frio la fora, mais uma daquelas oscilações típicas de toda estação. Mas continuo a observar, como um animal estuda a sua presa, sedento, porém tolerante.

Esse horário de Verão me deixa inquieta. Faz 2 minutos que estou te vendo no meu quarto, ou 62 minutos, como preferir. Posso te tocar, te beijar, te abraçar, te dizer coisas que só nós entenderíamos. Nós. Mas nada disso é real. Ter uma imaginação fértil nessas horas só faz a aumentar minha tristeza.

Tinha olhos místicos que encaravam como se fossem me devorar, o Sol batia nele suavemente, parecia uma criatura celestial, não fosse pela imperfeição humana que o tomava por completo. Mesmo assim, tirou de mim o ar, e de brinde fez minha face enrubescer-se toda. Que idiota eu fui. Com a mão direita, movimentei dos olhos para trás da orelha uma mecha negra de cabelo, não por incomodo, por pura vergonha. E com a esquerda, apertava fortemente o corrimão enquanto subia os 15 degraus restantes, em um momento de loucura  pude ouvi-lo gemer de dor. A tentação de virar e espiar pelos ombros, ver se aquele ser encantador continuava lá era tamanha, mas não o fiz, continuei subindo, enquanto as borboletas no meu estomago se agitavam.

O céu permanecera laranja, o Sol continuava a se pôr, mas no meu coração, tudo estava diferente.
Foi paixão. Com certeza foi.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Apresentações

Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2011.
Os dois estavam lá, junto com a escada e a janela, e o Sol foi testemunha de tudo.

A tarde estava quente, a brisa que vinha do sul parecia surtir efeito algum nas pessoas fadigadas e de pulões caídos. Mas os olhos daquela garota tola- mais conhecida como Clarice- se focavam em outra coisa. O céu. Era de um laranja inacreditável, se esticasse um pouco o braço tenho certeza que iriam tocá-lo, suas nuvens formavam riscos aleatórios, não aparentando trazer mais uma daquelas chuvas de verão, e estava leve, flutuante mas ao mesmo tempo tão perto do chão. Era mesmo de encher os olhos. Poderia ser tola, mas sabia contemplar uma bela paisagem.

Ainda abobada com tal beleza que a natureza lhe proporcionou neste fim de tarde, Clarice subia as escadas cinzentas até seu apartamento, em um prédio amigável, de arquitetura antiga, contrastante com o resto da cidade. Mal sabia ela o que a esperava no final daqueles 15 degraus.

O cabelo eram castanho claro, macio e bem emoldurado, seus olhos, que agora a fitavam, tinha um tom esverdeado quase caindo para o castanho, a pele macia cor de marfim, lábios, ah os lábios, estes eram finos em ambas extremidades, tentavam-na enlouquecidamente, seu corpo apressado era pego de costas pelas mechas do Sol que insistiam em passar pelos vidros da janela.
Seus olhos se encontraram, os verdes dela, os de cor mística dele, por uma fração de segundos. Segundos suficientes para se apaixonarem.



terça-feira, 11 de outubro de 2011

Tolice

Foi mesmo uma precipitação, diria até um erro, aquela garota dos longos cabelos negros achar que sabia tudo sobre o amor.
Enquanto o segura em suas mão, podia sentir o calor saindo daquela forma aparentemente frágil, porém mais forte do que qualquer outro sentimento. O amor, que agora residia em suas mãos, queimava-as até não restar mais nenhuma identidade. E a garota, sofria é claro, porém não conseguia larga-lo, mesmo sufocando, mesmo ardendo, mesmo queimando, não conseguia soltar esse sentimento que fizera dela um lar, era forte demais, lindo demais o que ela sentia por Leandro. Tão lindo, que nem mesmo ela conseguia acreditar.
Ignorando qualquer dúvida que lhe viesse em mente, dirigiu-se cidade adentro.
Tola garota, realmente achou que sabia tudo sobre o amor.