quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O limpador de almas

Seu corpo continuara imóvel, seus olhos fixos em uma única direção, olhava, mas não enxergava. Encontrava- se ali, o corpo de uma garota que perdera a alma, completamente. "Quer tocar?" foram as últimas palavras que soaram em seus ouvidos. Quando dera por si, estava lá, sentada num banco largo, a beira de um piano velho e empoeirado, enquanto seus dedos deslizavam tecla por tecla envolto nos dele. Não havia a necessidade de proferir palavra alguma, melhor assim, pois sua garganta agora era feita de nós. Nós de angústia. Sem mais, sua face via-se encharcada de lágrimas, suas lágrimas. Lágrimas de tristeza, angústia, lágrimas de alegria, e de dor, lágrimas apenas, lágrimas, de uma menina, que entregara a sua alma para o amor.

Canção empoeirada

Solos demasiadamente lentos, acordes graves batidos como martelo em pedra. Uma música horrível de se apreciar, uma música que prendeu, a atenção dos ouvidos de Clarice.
Não conseguiu identificar logo de início, nem ouvindo a música até o final. Mas sabia que a ouvira em algum lugar, estava lá, guardada em seu coração. Os dedos que deslizavam nas teclas empoeiradas do piano tinham a magia de hipnotizar. Dó Mi Sol, e por la foram aleatóriamente em seus dedos formando bolos poeirentos e cinzas de ácaros.
Oh mas a música lhe envolvera tanto a alma, esta que vinha de uma salinha minúscula, lar de um piano velho e solitário com um vulto instalado a sua frente, tocando como se o mundo estivesse em pedaços, e ele fosse a única pessoa residente no universo. Era Leandro, e ele era sim, a única pessoa no universo, no universo daquela garota dos mais enigmáticos cabelos negros, coisa que ela descobriria algum tempo depois.