sexta-feira, 27 de junho de 2014

Sem tempo para perder com nada

7 pessoas até agora... E já está quase anoitecendo...

Todos os dias as pessoas ligam para saber as horas. Já que o Sol não sai mais, o jeito é controlar o tempo pelo relógio, nós.

- Relógio. Tar...
- Ah, já é de tarde...

Hoje foram apenas 7... A luz não diminui, nem aumenta, mas as pessoas começaram a perceber. Seja pelos olhos pesados, seja pela melancolia. Seja pela ansiedade, seja pela dor nas costas.

Os postes da calçada iluminavam toda a rua, onde estava ela, sentada e balançando freneticamente seu pé. Numa bota preta e pontuda terminava seu corpo magro, e começavam meus olhos. E os dela enxergavam o infinito, como se estivesse vesga, fitando a ponta do nariz.

Meu telefone tocou, e conversamos um tempo inteiro. Não tinha celular, nem ela, mas conversávamos mesmo assim, pela linha do pensamento. Uma crimideia que nos levaria para a tortura, mas felizmente o ano é 2054. Quantos absurdos essa mulher me dizia! O tempo não existia, como assim? Mas não tinham pessoas que viviam dele? E viver de uma coisa que não existe lá pode ser verdade?

Foi como cair num abismo sem fim... E continuo caindo no abismo de meu nome, onde, ao voltar algumas vidas, percebo que nunca se viveu por algo existente. E meus avós viviam de quê? Número em pedaços de plástico. E eu vivo de quê? Eu vivo de tempo? Mas o tempo nem existe, o tempo nada é se não mais números vermelhos em uma caixinha preta.

E continuo caindo... no abismo de meu nome, vendo o tempo passar, as duas botas pontudas dela viradas para números sem sentido, os lábios proferindo palavra ininteligíveis, os olhos fitando o vazio incompreendível e as mão presas no além.

Hoje foram 7. Agora são 00h43. Amanhã serão mais de mil. E eu sou 8.