domingo, 17 de agosto de 2014

A de Agonia

Eu queria ser umas dessas pessoas que são felizes. Que ficam doentes com facilidade e perdem o ar em meio ao pó.

Talvez aquela tenha sido a cena mais triste que meus olhos já tinham visto. Uma pessoa envolta em uma fina manta, com toda a sua vulnerabilidade exposta. Estava nua e com lágrimas no rosto, sentada no chão do banheiro a assoar freneticamente o nariz. Por lá saiam a ansiedade, a tristeza e a vida. O estresse expelia-se por sua pele e a solidão se compactava no peito, junto ao seu punho fechado e os olhos marejados. O frio e a chuva colaboravam com a melancolia que se instaurava naquele lugar.

Não dava para entender muito bem o que acontecia ali. Por que chorava, nem ela mesma sabia. Por que estar nua naquela temperatura só ela sabia. Por que não ligar por seus cabelos embaraçados estarem encharcados por lágrimas? Por que não se importar de estar tão vulnerável? Por que implorar-me tanto a morte?

Abaixei-me e ali fiquei a observa-la. Depois de algum tempo levantou-se e foi até o quarto; deitou-se e ali ficou, olhando para o nada e fazendo cara de paisagem.

As pessoas falavam que o desanimo era falta de carne. Ela dizia que era excesso de vida então. Mas não importava, era o amor.

Foi deixando em carne viva todo seu peito. Sua alma não era mais límpida e cristalina, estava agora suja e despedaçada. Sem esperança, sem felicidade, consumida até os cabelos.

Eu havia visto isso tantas vezes... E tantas vezes isso se tornou cinza. Cinza em ambiente, cinza em cor, em textura, em pensamento, em vida e em sentimento.

E eu vi isso tantas vezes... E tantas vezes o cinza se tornou vermelho, molhado e quente. Tão intenso e tão chocante que parecia até que tinha valido a pena morrer de amor.