domingo, 17 de fevereiro de 2013

Vertigem

"Eu estou bem" Continuava a repetir sem perceber que as lágrimas já escorriam por seu rosto.

Seu amado agora só sobrevivia no perfume que deixara em seu travesseiro noite passada, onde envolvendo-a tão calorosamente entre os braços fez afirmações injustas e absurdas sobre a relação de ambos, sete meses foram então jogados no chão, encharcados por intermináveis lágrimas e atingidos furiosamente por gritos indignados.

O quão errantes são os olhos apaixonados.

Estava ela agora, com mais reclamações do que uma vida poderia oferecer. Pobre garota. Disseram-lhe que a juventude era bela, mas quantas foram as vezes que tentara se suicidar no banheiro de casa, ou no canto de seu quarto? 17 anos não foram o suficiente para que sua juventude viesse a florescer, ou a pessoa que lhe disse aquilo era realmente problemática e gostava de sofrer.

A realidade era tão mais feia quanto podia imaginar, e seu mundo se tornara tão mais sombrio que lhe saia do controle. Onde mais se refugiaria a cada aperto de coração?

Passou-se um ano sem que as coisas sequer começassem a caminhar por outro rumo. Não aguentaria, não queria mais pagar para ver. 

No auge de sua angústia, com o peito queimando em lágrimas e a cabeça vertiginosa, realizou o ato final, tão discreto e refinado, nada parecido com os ensaios, oque o fez mágico. 

Da sala de estar podíamos ver, deitada logo na entrada do banheiro com uma arma na mão, e a cabeça em um travesseiro vermelho e ainda quente.

Foi corajosa. Ao contrário do que muitos pensam, é preciso muita coragem para se matar. Acabara com todos os anos que ainda estavam por vir, do mesmo jeito que a vida acabou com a alma daquela menina de 18 anos.