quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Pequenas melodias

Vocês não vão acreditar no que aconteceu!

Eu estava no banho e comecei a ouvir umas vozes, achei que fossem meus pais, então não dei muita atenção. Quando saí do box, ouvi uma melodia no teclado do meu quarto, não uma melodia gravada, mas alguém tocando de verdade! Me enrolei na toalha e fui correndo ver quem era. Meus olhos nunca se questionaram tanto, não sabia se era realidade ou se estava enlouquecendo... Dois duendes!

Estavam com roupas iguais, mas haviam várias diferenças entre eles, como a barba de um e o nariz do outro, ou o tamanho das suas orelhas. O barbudo estava em cima, sentado nos ombros do de nariz estranho, as pernas soltas sobre o tronco e as mãozinhas dançando sobre as teclas. O de baixo não parecia se importar, muito pelo contrário, parecia adorar aquilo tudo, não se via mesmo como um "apoio" mas como o apreciador mais importante daquele concerto.

Fiz de tudo pra não ser notada, a melodia era tão vibrante e emocionante, nem parecia o mesmo teclado que reproduzia músicas minhas com tempos horríveis e notas bagunçadas. Quando terminou, vieram os dois na minha direção enquanto seus corpos ficavam mais e mais transparentes a cada passo até desaparecer na porta. Não sei se me viram ou não, se tocava por mim ou não, mas sei que um dos duendes estava errado. O apreciador mais importante daquele concerto era mesmo o meu teclado.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sem saída

Quando cheguei, achei super estranho estar tudo escuro, normalmente lá se encontravam minha irmã e o Bob vendo TV ou lendo, mas essa noite, nada. Fui até o quarto da Lívia e achei-a deitada em sua cama, mergulhada em sonhos. Suas bochechas estavam vermelhas e molhadas, tinha chorado, porque eu não sabia, talvez nem ela soubesse, os sentimentos as vezes tomam caminhos estranhos e desconhecidos. 

Esses caminhos... Faziam o coração arder em chamas e nem ao menos davam uma razão pra isso, é uma tremenda ingratidão do nosso corpo. Poxa, a gente trata ele tão bem pra sofrermos incessantemente sem nenhuma explicação. Isso realmente não é justo.

Ah, que vida miserável eu vivo, sempre saindo de casa às seis da manhã, que com esse horário de Verão ainda mal vemos a luz do Sol. Votando só às onze da noite quando minha alma não aguenta mais tanto calor e minhas juntas já quase se desmancharam em suor. Pra quê? Conseguir a vida. Enquanto ela está bem ali, oferecendo-se de graça, nas estrelas que ofuscamos com as luzes da cidade ou no azul das águas ofuscado pelo azul das notas de cem.

Será que não sabemos mesmo por que sofremos tanto? Por que nosso peito arde e sufoca tanto? Claro que sabemos, sempre soubemos. Só queremos evitar entrar mais a fundo nos caminhos que o sentimento escolhe. Caminhos estranhos e sombrios. Os piores caminhos. Caminhos que sabemos de cor mas evitamos fazer sempre, pra evitar que soframos ainda mais.