sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Sai de Costas pra não pegar encosto

Era a família Costa, não a Moura ou a Prado ou qualquer outra de sobrenome engomadinho. Os Costa sofreram desde sempre, com os mestiços e os branquelos, agora com as cáries e as pulgas.

Roberto não sabia mais oque fazer, seus filhos tinham os dentes cariados, sua esposa implorava por carinho e seu emprego o largara. Oque fazer agora Roberto? Eu é que não queria estar na sua pele.

Foram dias não? Vagando pelas ruas procurando um rumo à não mais vida individual, mas de todos os Costa, os Costa Júnior, a Costa esposa, o Costa pai, a Costa falecida mãe e o Costa pobre e perdedor... Roberto Costa.

Sorte ou azar o deles que eram conhecidos por toda a vizinhança, logo mais toda a cidade, logo mais, tornariam-se conhecidos pela ciência das pessoas importantes. Não que existam pessoas mais importantes que outras e... Vocês entenderam... Ou não? Adoraria discutir sobre o não entendimento nos comentários que nunca recebo. Sintam-se a vontade.

Bom, o Marcelo Camelo não dizia? "Os bravos são escravos sãos e salvos de sofrer". Com aquela barba tão sábia parecida com a do Beto, só que bem diferente, se é que vocês me entendem.

Em um dia, quente, bem quente, o homem mais inocente e bondoso do mundo quis ajudar a família Costa, quando achou um saco de feijão na rua e pensou "Oh, levarei aos pobres Costa, eles estão com tanta fome, e aquelas crianças precisam de ferro, muito ferro." Ah, quem me dera fosse Fábio um pouco mais inteligente ou perspicaz, já seria suficiente.

O saco de feijão, vindo de lugar desconhecido, foi aceito de bom grado, estavam famintos, famintos! E as crianças ficaram tão felizes.

Na semana seguinte foi vista num canto do jornal a família Costa, uma família inteira morta por combustão espontânea. Ora isso foi oque rodou pelo mundo, tornaram-se destaque até lá na América de Cima! Ah, se o Beto estivesse vivo pra ver isso... Desejaria voltar no tempo pra não aceitar aquele saco de feijão. Já que Fábio o achara em meio à umas velas e bebidas.

Era magia negra, e todos acharam que era ciência.



sábado, 9 de novembro de 2013

Era fusca?

Ela foi de encontro aos lábios dele e saiu correndo, nessa de sair correndo um carro lhe acertou em cheio, e seu corpo dividiu-se em dois, como se fosse um palito de sorvete. Ele não sabia se aquilo que estava vendo era sonho, pesadelo ou devaneio...

Ora se não estava a pensar em atirar-se frente a um carro minutos atrás, o namoro era péssimo e tinha vontade de se matar, um inferno em vida. Morrer, qual a maior curiosidade se não a que vem após a vida? Não teria oque perder, já estava morto em vida. Mas ver a garota mais terrível do mundo ser atropelada partiu-lhe o coração.

E não é que a amava mesmo. Foi com a tristeza que achou a resposta pra seu sentimento mais evidente.

Tadinha, morrer daquele jeito, com lágrimas nos olhos e raiva na alma, pro inferno é que não foi, precisava se purificar a coitada.

E o garoto tolo e sentimental... Morreu de tristeza, morreu de angústia e fez-a morrer em esquecimento alguns meses depois.

É assim sistemático e simples, nenhuma desculpa seria tão mais banal, e nenhum arrependimento curaria os calos do coração.

É sangue derramado só pra limpar um pouco a futilidade.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Aflição

Eles me prometeram a cura, e agora eu sou um corpo drogado e intoxicado.

Meu quarto cheira a alvejante e é tão escuro que não sei se estou mergulhada em sonhos ou afogada nos pensamentos. Não vamos falar de sentimentos hoje por favor, sentimento é sujo e repulsivo.

Nem sei oque é verdade e oque é cenário do meu mundo, só são reconhecíveis as sombras das baratas que não se escodem mais a noite e das pessoas que se protegem de um suposto estuprador que está com medo de ser roubado pela pessoa de trás com um spray de pimenta na mochila.

Um efeito dominó.

A verdade e a resposta absoluta é que não existe essa de verdade, é tudo mentira da vida. Tudo sujeira do próprio pensamento que entope as artérias do saber.

Me prometeram a cura, mas a cura não existe se o problema vem da sua imaginação.