sábado, 19 de abril de 2014

Os lírios perdidos do campo

A terra seca do serrado se fez fatidicamente parte de seu cotidiano. Um ser caído e de calças largas. Seus passos sentiam cada vez menos o calor que emanava do solo craquejado, suas unhas pretas se arrastavam sobre a barba loira e os cabelos oleosos tapavam seus olhos chorosos. Mais perdido que ele só alguém que dissesse viver.

Vivia? Achava que o fazia, mas agora já sabia que perdera-a totalmente tentando ganha-la. Olhai os lírios do campo... Quais lírios? Qual campo? Não via, não podia, mas dizia que o faria, quando fosse digno de enxergar. E já o era mesmo antes de cogitar.

Olhai! Não podia, mas também não ligava, era um sujeito paciente, não gostava de se evidenciar. Ficava no finalzinho, num cantinho com medo de olhar. Mas olhava e se esforçava.

-Não vi. Se vi, perdi.

Viu. Viu? Conseguiu. Achou que eram violetas, mas não o culpemos, quase não podia ver seu próprio pé, quanto mais reconhecer os lírios em meio ao campo. Tanto calor sentiu e seu leque assim sumiu. A beleza dos lírios foi ofuscada pelo incômodo de não mais se acomodar e assim desistiu de olhar. Os lírios perdidos, porém, não deixaram de brilhar, regados pelo suor dos que não paravam de trabalhar.