sexta-feira, 6 de abril de 2012

Desejos

Uma, duas semanas se passaram e Clarice quase morrera de tédio. Estava cansada de tudo e de todos, seus pulmões caíram. Tornara-se o tipo de pessoa mais odiável por ela, os sobreviventes.

Vivera do sonho até não reconhecer mais sua própria realidade. O ócio, seu companheiro inseparável dos últimos dias, a fazia um mal terrível. O que de melhor podia-se fazer se não então pôr por escrito todos os seus pensamentos e desejos? Em um pedaço de papel escreveu:


"Traga-me o amor, por favor, com tudo que lhe é direito. O sofrimento desconhecidamente mútuo, as lágrimas aparentemente inesgotáveis, a ansiedade trêmula, a decepção dolorosa, o prazer aflitivo, a felicidade infinita, o medo da perda, a perfeição em meus olhos, e a ligação do meu coração.

E se puder, traga também algumas cartas apaixonadas e fotos reveladas, para que eu possa guardar em minha caixa vermelha da sapato, as lembranças desse amor que nunca à de terminar."


Queimou-o em sua janela, na esperança de que alguma força divina encontrasse e realizasse seu desejo tão egoísta.

Sem perceber, uma brecha enorme fora aberta em seus sentimentos. Saiu, não aguentava mais permanecer dias inteiros dentro de casa. Pegou o suéter vermelho do cabide, amarrou os braços contra o peito e afundou-se cidade adentro. Estava um dia frio, porém ridiculamente claro. 
O Sol brilhava orgulhoso em seu pico, apontando todos os defeitos daquela garota de mente perturbada. O sorriso do malabarista no sinal vermelho parecia debochar de seu rosto tomado pela tristeza. Pobre Clarice. Seu coração apertado a matava tortuosamente, e ninguém conseguia entender.

O botão de seu suéter caiu, por uma linha vermelha mal costurada. Rompera-se. E aquilo foi motivo suficiente para fazê-la chorar.

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