sábado, 14 de setembro de 2013

Monólogo

"A música passava de um ouvido à outro, como se existisse um vazio entre eles e meus pensamentos fossem traduzidos na melodia que saia dos fones encardidos. Sentei no canto mais escuro do quarto e me obriguei a chorar, haviam lágrimas demais dentro de mim."

Um garoto apaixonado, apaixonado pelas coxas e pelos seios, pelo rosto e a cintura, os pés não, eram grotescos e largados. E ela ainda era inteligente e culta, a garota mais incrível que já conhecera... Como não amar? Como não querer passar o resto de sua eternidade ao lado da pessoa feita exatamente para ele? Tão dele achava, que não suportava qualquer exibição alheia por parte de Clara.

Era de dia, os trens corriam freneticamente no meio da semana, e os dois andavam de mãos dadas no centro da poluição. Ela de saia, ele de olhos e coração. Uma rajada de vento subiu diretamente da calçada até os cabelos da menina mais linda do tempo e espaço. Maldito trem, malditas nádegas tão encantadoras! Todos se não mais Cláudio viam as tão lindas almofadas dela numa calcinha azul de listras brancas, enquanto sua saia flutuava em volta da cintura. Uma angústia o tomou imediatamente. Não! Ninguém mais podia admirar tal preciosidade se não ele mesmo. O ciúme escapou-lhe pelos olhos. O embaraço queimou-a nas bochechas.

"Por quê?"

Indagou como se fosse o cara mais sem sorte do mundo, como muitas vezes o fazia, cortava-se com papel e lamentava sobre a vida, caindo mais uma vez em seus sonhos descoloridos. 

Emaranhados fios de pensamentos enchiam e esgotavam sua pequena cabeça coberta por cabelos enrolados, e migravam para o coração e demais órgão, causando-lhe doenças sem diagnóstico. Um sentimento tão grande que se tornava um nada, pensamentos quaisquer que faziam os fios de lágrimas saírem pelos olhos. "Uma doença horrível" disse a mulher sua vizinha, a que fazia simpatias para o inimigo ser acordado enquanto pegava no sono. E realmente era terrível! Receber um diagnóstico da vizinha, que horror!

Onde estava Clara nesses momentos? Ao seu lado, sempre como devia estar. Sempre, o amor estava com ele. Tão constante era sua presença que deixara de ser um sentimento tão valioso como pensava. Almejou tanto o amor e pouco tempo depois já o desprezava, e pouco tempo depois já havia se acomodado.

Triste vida era a dele, nem mesmo em sonhos coloridos encontrava a paz. Era um monólogo não percebido, e assim foi atuando cansado, achando que a tristeza vinha de fora.

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