terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Casa

Sentada em minha cama numa noite de Verão, quando o clima da estação nos faz acreditar que nada de ruim pode acontecer, me banhei em lágrimas.
À minha frente, a imagem de uma mulher nua, esguia e perfeita. Sua pele dourada envolve todo seu corpo de forma aveludada e natural, seus ossos se sobressaem abaixo do pescoço, seus lábios são perfeitamente desenhados para falar, rir, cantar, chorar e amar, seu nariz com dois orifícios que nos levam ao mágico universo dos aromas, seus olhos são redondos e brilhantes, tristes e aguados e me encaram também e suas orelhas, dois decifradores de enigmas sonoros.
É perfeita, da cabeça aos pés.
Ainda em lágrimas me coloquei a pensar como nosso corpo feminino já nasce, se desenvolve e vira pó carregado de julgamentos. Somos julgadas pela cor da nossa pele, pelo formato dos nossos seios, pela gordura do nosso corpo, pelos nossos pelos corporais, pelo modo que movimentamos nosso corpo, pelo uso de nosso ventre e pelo nosso modo de pensar e agir.
Como pode meu corpo ser tão do outro quanto meu?
Não pode e não é.
A imagem que vejo no espelho, o corpo que sinto na ponta dos meus dedos, a face pela qual minhas lágrimas escorrem pertence a mim.
É a minha casa, é o meu abrigo e eu a amo.
E ninguém vai derrubá-la.

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