sexta-feira, 24 de maio de 2013

Sobre circunstâncias

Estava frio, muito frio, e Alexandre não podia se sentir mais vivo.

Todas os dias eram os mesmo, seguiam-se café, aula, almoço, conversas, aula, janta e tristeza profunda.
A vida de Alexandre não era das mais exitantes, era na verdade uma das mais deprimentes que eu já ouvi falar.

Aos 7 anos, em plena curiosidade infantil, fora esfaqueado nas pernas por ser testemunha de um assalto no beco de sua cidade natal, não suficiente perdera os movimentos das mesmas.
28 anos depois, estava acostumado com a cadeira de rodas como se essa já fizesse parte de seu ser. E agradecia sempre por não ter se tornado um velho repugnante, daqueles que falam baixinho no ouvido de suas alunas mais promissoras "Ninguém precisa ficar sabendo"... Velhos grossos, pervertidos, e egocêntricos.

Lecionava inglês em uma escola não muito bem falada, suas alunas, jovens ninfetas esbanjavam vivacidade e frescor, e uma delas era minha irmã, 16 anos, linda como uma flor que acabara de desabrochar.

Tínhamos acabado de entrar no inverno, a estação mais esperada, mais amada e mais odiada por todos. Alexandre estava fazendo a chamada, e como sempre ao dizer o nome Luna, seu coração palpitou ferozmente e sua face enrubesceu. "Aqui" ouvido como uma melodia eletrizante, tal melodia saída de lábios rosados e umedecidos, num rosto angelical moldado por cabelos negros e lisos. 

"Oh Luna, tão provocante. Seus olhos impiedosos não me poupam por um segundo sequer, admito que por ti sinto enorme atração, e imagino que seja recíproco. Mas oh, criatura tão bela, tão feroz, de inteligência divina e persuasão inacreditável, cuidarás bem de meus sentimentos? Se entregá-los a ti, jura que não os fará seu inseparável brinquedo? Se bem que não me importaria se eu fosse sua diversão, só quero estar contigo e contigo permanecer."

Pobre Alexandre, Luna tinha mais parceiros do que ele tinha meias. Sinto-me culpada até hoje por ter roubado algumas folhas de sua agenda. Mas entendam, sem estas não estaria entretendo muitos de vocês neste exato momento, não me julguem.

Luna, Luna, achava-se tão esperta e altiva, porém não se lembrava que tinha um coração adolescente e que este um dia chegaria a bater como nunca antes por uma pessoa amada. Felizmente sim, esta pessoa era seu professor de inglês. Como o admirava, sua aparência frágil e inocente fazia-a imaginar cenas absurdas!

Voltemos ao dia em que começamos esta história. Não estava presente, meio óbvio, mas tenho provas escritas retiradas da agenda de um homem apaixonado.

"Estava tão frio, e todos sabem que detesto o frio, mas neste dia 13 de fevereiro de 1972, me senti o homem mais sortudo do mundo. Ela me esperava na biblioteca, sabia que eu ia lá toda sexta-feira. Quando a vi, uma surpresa tomou conta de todo meu ser, se minhas pernas pudessem tremer, tenho certeza de que cairia ali mesmo, como um tolo. Linda como sempre, seus cabelos terminavam onde começavam seus seios, seios não muito fartos, porém orgulhosos e vistosos. Suas pernas descobertas liberavam minha imaginação e seu olhar me matava lentamente. Vi sua imagem se aproximar provocativa, chegou perto de meu ouvido esquerdo e sussurrou "Gosta de correr?" Permaneci em silêncio, que resposta ela esperaria de uma pessoa em uma cadeira de rodas? Não incomodada pelo silêncio, pôs-se a empurrar minha cadeira normalmente até sairmos da escola, a partir da saída ouvi algo como "Preparado?" e uma respiração profunda. Nunca havia sentido o vento daquela maneira em meu rosto, Luna estava me empurrando em tamanha velocidade que me senti vivo, como em todos os anos da minha vida nunca me senti. Olhei para trás e sua face se enchia de felicidade, chorei como nunca, ri como nunca, amei como nunca. Corremos até minha casa, onde o frio fora substituído por um calor incessante. Nos amamos tão sinceramente. Nossas almas dançaram no ritmo das batidas de nossos corações. Lembro me nitidamente de cada parte de seu corpo desnudo, cada curva, cada textura, posso senti-las em meus dedos mesmo agora. Oh minha amada Luna, tão minha como sou dela."

Na semana seguinte, professor Alexandre não foi a escola, nem na outra, e nem nas que se sucederam. Não suportaria ver sua amada flertando com outros garotos de sua idade, não aguentaria. Mudou-se então para algum lugar, não sei onde, mas pelo que sei anda feliz.

Minha irmã nunca mais tocara no assunto, porém toda vez que suspirava em dias frios olhando pela janela, sabia que era nele em quem pensava e por quem chorava.
Mostrei a ela a ultima coisa escrita pelo seu amante.

"Nunca vou esquecê-la. Luna, dona dos meus sentimentos mais bonitos."

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